fbpx

SUICÍDIO: A ESCOLHA ENTRE O SOFRER E O NÃO VIVER

SUICÍDIO: A ESCOLHA ENTRE O SOFRER E O NÃO VIVER (1)

O entendimento sobre os fatores e as razões que levam as pessoas a chegarem ao ato de eliminar a própria vida ainda são incertos e nada precisos. O estudo sobre o suicida se dá somente pelo número estatístico de mortos em decorrência de tirar a própria vida. No mais são especulações sobre a condição mental ou até mesmo condições e influências sociais que levam a uma determinada pessoa a extinguir a si mesmo.

Ao abordar o suicídio, a doença e o sofrimento mental, a angústia do existir e da existência, bem como elucidar o comportamento suicida e seus impactos causados no indivíduo, na família e a na sociedade sobre o ato de morrer, precisamos repassar alguns conceitos ao longo da história. Para que essas questões de saúde mental, quanto ao suicídio e outros transtornos, tratadas de forma preventiva.

Historicamente o suicídio sempre foi motivo de estudos e pesquisas, afinal quais são as condições que levam a alguém a chegar a praticar um ato contra a si mesmo, às vezes, de forma repentina e outras de forma mais dolorosa. Registros indicam como a pessoa morreu, e a partir daí verifica-se se havia traços ou não de insanidade mental.  A pessoa que morreu estava em dívida? Traiu ou foi traído? Estava arrependido de algo? A condenação do ato estava vinculada a fatores que levaram ao assassinato de si mesmo, se houvesse dados sobre o sofrimento mental, o suicida tinha seu perdão, agora se o ato praticado fosse de origem pessoal, o mesmo deveria ser punido pelo seu crime.

Condições a parte, o fato de alguém desejar extinguir a própria vida, essa pessoa está em sofrimento mental. E neste ponto entramos em outra abordagem sobre o suicida, o fato de uma pessoa com qualquer tipo de problemas relacionados com comportamentos ou transtornos mentais, independente do grau e tipo, é considerada uma pessoa doente. E a doença mental sempre foi tratada como algo que afeta o indivíduo, mas principalmente a sociedade por não ser considerada como algo normativo.

Historicamente, o tratamento dado a doença mental era sofrido, isolado e punitivo, na maioria das vezes para que houvesse uma adequação e controle social, além do fato de se imaginar que a doença mental era fruto de uma família desajustada e possivelmente houvesse transmissão da doença entre os membros da família.

Outra questão de como se via a doença mental nos traz que tirar a própria vida era condenável perante o sagrado. A vida é dada por Deus ou pelo poder Divino, e somente a esse poder era permitido dar ou tirar a vida, portanto, a morte por suicídio era vista como algo que não merecia o perdão dos homens, muito menos o perdão de Deus, sendo vetado inclusive ao indivíduo o direito ao lugar sagrado no paraíso, estando condenado ao “o inferno em pecado eterno”.

Independente das questões dos transtornos mentais ou o papel da vida no contexto religioso ou filosófico, a pessoa que pratica o ato suicida está em sofrimento mental, existe nesse ser uma angústia em relação a sua vida e ao fato de existir, que podem, em sua maioria estar relacionado com fatores de ordem emocional, social, econômica, financeira, familiar. São fatores que os leva a acreditar não ser suficientemente capaz, ou não conseguir atender o que se esperava dele.

A certeza que fracassou em algum momento e não conseguiu atender as expectativas externas. Sem ter equilíbrio mental suficiente para lidar com os mais diversos problemas e adversidades, busca no meio externo a resolução dos problemas que lhe aflige. Como não encontra, muitas vezes por ser o meio externo, que talvez o fez adoecer, parte para o que está a seu alcance ou o que acredita ser a maneira ‘mais fácil’ para dar ‘fim a questão’, acabando consigo mesmo. 

QUAL A RAZÃO DE ELIMINAR A SI MESMO?

A pergunta que se faz, é o que se quer resolver e a razão de eliminar a si mesmo para resolução do problema. Afinal, problema ainda existirá, mas a pessoa envolvida não estará mais para saber se haveria ou não solução?

Essa pergunta por si só não simples e de fácil resposta, até porque jamais saberemos quais são os conflitos que estão envolvidos nessa angústia existencial. O que sabemos de fato é que até chegar ao ato existe uma trajetória, e neste caso, o suicídio passa a ser estudado pelo comportamento, ou seja, pelo ato de tirar ou não a própria vida. E mais vez, o estudo do suicídio recai sobre atitudes comportamentais, sobre quem faz e sobre o porquê alguém faz.

Pelo olhar no comportamento existe um componente que se distingue do ato suicida, pelo fato do comportamento ser um ato praticado em diversas ocasiões, pela pessoa que está em sofrimento mental, que em diversos e pequenos atos vai fazendo tentativas para eliminar de alguma forma consigo mesmo. Essa pessoa também está vivendo a angústia do existir, porém, o ato de eliminar a própria vida ainda tem um peso quanto ao não viver.

Em termos de impacto do ato em si, tanto o comportamento suicida, assim como o ato suicida, ocasiona um efeito emocional, que pode ser devastador para quem comete o suicídio, para quem tenta, uma ou inúmeras vezes, para família, assim também para a sociedade.

Para o suicida o efeito é a auto eliminação, para quem tem comportamentos suicidas, o efeito é saber que existe um limite constante e arriscado, entre o continuar a viver e a possibilidade de sempre ir em busca da eliminação da vida, para família, saber que alguém tirou a própria vida é devastador, pois envolve sentimento de culpa e por vezes remorso por não ter feito algo para salvar a vida do seu ente, já para sociedade o impacto está na condição e contexto social em que essa pessoa estava inserida, bem como aspectos econômicos e de saúde pública. 

A PREVENÇÃO VOLTADA AO TRATAMENTO DA QUALIDADE DE VIDA.

Vivemos em uma sociedade que ainda busca os padrões de comportamento normativos, e a fuga destes modelos é tida como um ato ainda de covardia, se perdeu a noção, ou não tivemos ainda, a visão de que essa mesma sociedade é produtora da loucura e do sofrimento mental. Estamos em uma época em que o ‘dar certo’ é uma cobrança constante, e o fracasso está com alguém que não tem forças, que é incapaz de se levantar.

Seja qual for a razão, ou desculpa, encontrada a pessoa em si, aquela que está em sofrimento mental não tem o direito a voz. Abordar o suicídio não é uma questão de prevenção ao próprio suicídio, mas sim, de tratamento da qualidade de vida mental das pessoas. É preciso criar e efetivar programas de políticas públicas na área de saúde da família, assim como no modelo da terapia familiar sistêmica, pois a família é a mais afetada em cada ato suicida, bem como programas de psicologia social em saúde mental. Atuar no contexto escolar e comunitário, priorizando assim a qualidade de vida e o enfrentamento de situações pessoais e coletivas que inclua as questões emocionais com a perspectiva sistêmica em relação ao ser humano.

Entendermos que todo sofrimento, independente do grau ou condição é um sofrimento digno, que o acolhimento da dor da do outro passa pela escuta ativa, pelo entendimento legítimo da dor, e essencialmente saber qual o momento, onde e qual tratamento é o mais indicado para cada situação.

O tratamento de uma pessoa com pensamentos suicidas antes do encaminhamento para tratamento ou julgamento sobre a condição dessa pessoa, passa pela revisão de valores sociais e familiares em relação a aceitação e acolhimento do outro, pelo que outro é, e não pelas condições ou características que desejam que ele ou ela tenha para que se enquadre em nosso desejo e modelo.

Ver que somos seres diferentes e que ser diferente está “tudo bem”, que os iguais de fato se atraem, mas que as diferenças se completam e se complementam, e o importante nessa vida é a possibilidade e busca pela felicidade e bem estar, antes de tudo consigo mesmo, e depois com os outros.

Fonte:

Luis Antonio da Silva. Psicólogo Clínico, Mestre em Administração, Comunicação e Educação. Professor Universitário para Cursos de Graduação e Pós graduação. É Professor do CEFATEF para os cursos de Terapia Familiar Sistêmica, Terapia e Educação Sexual e Atuação no Campo Sociojurídico.

 

| MAIS INFORMAÇÕES

| ATIVIDADES

| CATEGORIAS

INFORMATIVOS
LOCALIZAÇÃO

Rua Tagipuru, 209
Barra Funda – São Paulo
SP – CEP 01156-000

REDES SOCIAIS

© São Paulo 1999  |  CEFATEF

Desenvolvimento: Agência de Marketing Modelo Digital